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19.3.08

ainda o 8 de março

Li muita coisa que foi publicada nos últimos dias sobre as mulheres, suscitadas pelo dia internacional. Entre todas, escolhi um artigo da Rosie Marie Muraro e da Maria Tereza Maldonado que foi publicado na Folha de SP, no dia 07/3/2008, na seção Tendências/Debates. Como o site só permite o acesso do artigo para assinantes...
"Corpos de consumo
Desde que começamos a trabalhar com mulheres, a pergunta básica que nunca deixou de ser a mesma é sobre o tratamento da mídia a respeito do corpo feminino. Agora, contudo, devido ao avanço da tecnologia, a coisa está se tornando mais grave. O consumo não é mais sobre a forma física da mulher, que é sempre jovem, magra e bela, mas sobre seus laços mais profundos.
Sites americanos e brasileiros apresentam o "pacote de cirurgia pós-parto": lipoaspiração para retirada das gordurinhas extras, correção da vulva e dos seios, tudo para consertar o "estrago" que a gravidez faz no corpo da mulher. Médicos mais sensatos recomendam alguns meses de espera para que a própria fisiologia se encarregue de fazer boa parte do trabalho, mas outros vendem a idéia de "aproveitar a oportunidade do parto" e cuidar de recuperar rapidamente a auto-estima supostamente perdida com a "deformação" provocada pelo feto.
O vínculo amoroso imprescindível com o bebê, a intimidade da amamentação, a importância dos primeiros dias e semanas após o parto para incluir o bebê na família deixaram de ser a prioridade?
Sim. Para a sociedade de consumo, nem o corpo da mulher nem o da criança nem o do homem são prioridades. A prioridade única e exclusiva é do lucro. O lucro vale mais do que a vida humana.
No depoimento de algumas mulheres motivadas a comprar o "pacote", os argumentos giravam em torno de garantir a permanência do desejo do marido, preservar a boa imagem no ambiente de trabalho, destacar a importância do corpo perfeito. E agora nos perguntamos: vale a pena ficar com um companheiro que só nos quer se estivermos "com tudo em cima"? O consumo também engole os valores mais profundos do amor.
em conversa com uma moça na faixa dos 20 anos, vimos a insegurança de ir para cama com o namorado sem estar perfeitamente depilada. Este, por sua vez, também depila os pêlos do peito (...) Será que o desejo ficou tão vulnerável à estética. tão volátil, que desaparece sem os devidos cremes, as horas nas academias e os tratamentos de beleza para corrigir as imperfeições?
(...) O pior é que não é só o corpo que o capital/dinheiro destrói. ele destrói também a capacidade de homens e mulheres de aprofundarem a sua relação com a realidade. Destruir o corpo real e substituí-lo por um corpo de consumo é também substituir a "realidade real" pela "realidade de consumo", que tende a destruir a própria espécie humana (a partir do desequilíbrio climático pelo excesso de consumo).
Não vou comentar, abro para discussões.

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