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25.8.12

Fênix II


Como prometido, aqui está a segunda foto, cheia de dor e orgulho.
No começo do mês fui lá, pintar a tatuagem. Cheguei sem saber ao certo o que queria, minha única certeza era "uma cor bem feminina". Eu fiz uma tatuagem grande, queria que a pintura a deixasse delicada. 
Fui com muito medo da dor. Lembrava o quanto doeu para riscar e ouvi TODO mundo dizer que eu ia sentir muito mais dor pra pintar. Então fiquei nervosa e quase desisti. Minha surpresa foi aguentar 3h30 de sessão, só parando uns minutinhos porque a outra perna dormiu... Doeu, claro. Mas já senti coisa muito pior na vida. Descobri com isso que sou forte, muito mais do que eu imaginava. 
Quando acabou, minha felicidade era tanta, me senti tão realizada, que nem lembrava mais da dor. Eu queria era mostrar pra todos como tinha ficado. Quando o tatuador disse que ia tirar uma foto pra postar na página dele, fiquei mais orgulhosa ainda: ele também estava satisfeito com o trabalho. 
Mas de todos os elogios que recebi, de todas as manifestações, a melhor foi a da minha mãe. Ela não gosta de tatuagens e por ela eu nunca faria algo assim. Pra mim ela disse que ficou bonita. Mas no dia seguinte minha irmã chega e diz "Quero ver, a mãe disse que ficou linda! Se ela disse, deve ter ficado!". É, se minha mãe que não gosta e não queria que eu fizesse elogiou, é porque ficou foda mesmo. 
Quando escrevi sobre o porque de fazer a fênix e tudo o que ela representa pra mim, um amigo fez o seguinte comentário: "Vemos agora como vc mudou. Quem disse que tatto é coisa de pele? Prefiro pensar que tudo já está lá, apenas com a diferença de que após algumas camadas de tinta, todos tem o mesmo prazer de ver o que antes só a gente via". E senti um cisco no olho ao ler, talvez pelo dos bebês... Mas é exatamente isso, essa sou eu, agora pronta e à mostra, para quem quiser enxergar.

13.8.12

Meus queridos ranzinzas



Quando me mudei para o interior de São Paulo descobri duas coisas: paulistanos são ranzinzas e metidos. Eu estava em minoria, a maioria da faculdade era de pessoas do interior e todos me tiravam de metida só por ser paulistana. Eles tinham razão do estereótipo, muito paulistano é metido. Paulistanos acham que só porque moram naquela metrópole monstruosa são melhores que o povo do interior e de outros estados. Eu odiava ter essa fama porque nunca pensei assim. Então, a partir daí, quando encontrava com um paulistano se vangloriando eu quebrava as pernas dele e sorria - um a menos nessa fama que eu não quero pra mim. 

Mas quando vinham reclamar que paulistano é ranzinza, que está sempre de mau humor, que não conhece nem o próprio vizinho blá blá blá, eu defendia minha cidade. Sim, somos assim. Mas e daí? Quem foi que criou uma regra que bom humor 24h por dia, 7 dias por semana é necessário? Quem foi que disse que só porque o cara é meu vizinho eu devo conhecê-lo? Ser educado, dar bom dia, boa tarde, boa noite é uma coisa e isso muito paulistano faz. Agora ser obrigado a conhecer todo o prédio ou toda a galera da rua é incompreensível pra mim. 

Sabe porque isso não nos magoa? Porque o vizinho pensa igual e também não faz questão de se tornar amigo só porque mora ao lado. Melhor que isso, é que nós simplesmente não estamos preocupados com a obrigação. Amigos se fazem mais pela proximidade de gostos do que pela localização geográfica. 

Imagino que para uma pessoa que está acostumada com pessoas mais sorridentes isso seja absurdo. Sei como é no interior, onde moro há anos. Deve ser mesmo difícil mudar para SP e enfrentar isso. Assim como foi difícil para eu me acostumar com o lado invasivo do interior. O público é muito mais público no interior e o conceito de privado é quase inexistente. Tudo que se faz é conhecido 24h por toda a cidade. Todo mundo é parente de alguém, estudou com alguém, mora perto de alguém. Então o que parece amizade, calor, simpatia e alegria no interior, me parece uma prisão dos bons costumes. 

Neste sentido, amo a liberdade de SP. A cidade é tão grande, tão independente do seu dia a dia, que te garante o anonimato. Não se é ninguém em SP e isso é libertador. Quando não se é ninguém, pode-se ser quem quiser. 

Há uma outra coisa que amo em SP e não encontro em todos os lugares: civilidade. A Avenida Paulista é mais limpa que o vilarejo inteiro. Lógico que numa cidade enorme nem tudo e nem todos são assim. Mas é o único lugar que fui e que as pessoas respeitam fila, respeitam os acentos especiais no metrô, dividem mesas com estranhos nos shopping, dão passagem no trânsito e sabem pra que serve a seta. São coisas pequenas que tornam a vida mais fácil. E SP precisa disso, ou nos mataremos.

Ficava indignada quando na província via as pessoas jogando o lixo pela janela do carro. Mais indiganada ainda quando eu dizia que isso era absurdo e o povo gargalhava me chamando de careta... De que adianta ser simpático com a cidade inteira, se você vai jogar a sua sujeira na cara de quem está atrás?

Outra coisa que gosto em São Paulo: ser bem tratada nos estabelecimentos. Em vários lugares que fui, como Brasília, as pessoas são super grosseiras e não dão atenção nenhuma ao cliente. Super normal seu pedido vir errado, demorar horrores, esquecerem sua bebida. Aqui no vilarejo dizemos que existe o padrão Paulínia de atendimento: grosseria com cara de Regina Duarte e tudo em falta. E não sou só eu, paulistana, que digo isso. Os locais também dizem. O que gosto é que eles reconhecem isso e riem. Como eu rio do mau humor paulistano. 

No entanto sou obrigada a admitir que SP nem sempre foi assim. Nas décadas de 80/90, quando passei a adolescência na metrópole, foi o limite que fez as coisas mudarem. Lembro que as pessoas não davam lugar no ônibus e isso começou a virar confusão. Tinha gente dentro do ônibus que intimava o folgado da vez, tinha cobrador que mandava o cara sair. Era sempre uma tensão de que ia virar briga. Mas aos poucos, tornou-se vergonhoso ser o cara que não dá o lugar. O mesmo com o lixo. Uma vez, eu estava segurando o papelzinho de Trident, porque não tinha lixeira por perto. Naquela de ficar brincando com o papel na mão, ele caiu. Lembro até hoje das caras feias no ponto de ônibus me olhando e que só viraram depois que eu me abaixei e peguei o papel. Se achei exagerado? Não, eu ri. Eles estão certos, a cidade já produz muito lixo para existir, não custa cuidar do espaço que milhões usam. 

Lógico que SP tem milhões de defeitos, assim como todos os lugares do mundo. Lógico que todas as pessoas de uma cidade não são iguais, somos indivíduos, únicos. Detesto generalismos. Tem gente mal educada em SP, tem bairros imundos, claro que sim. Assim como tem cidades do interior que parecem casinhas de boneca de tão cuidadinhas. O que mais me intriga é essa competição para ser melhor. Nem paulistanos são melhores, nem interioranos, nem nordestinos, nem manauaras, nem cariocas, nem europeus. É só que do meu lado, eu prefiro quem aceita meus defeitos e sabe rir dos seus.