Pesquisar este blog

7.11.12

Sobre escolhas e sonhos


Fazer escolhas doem. Isto é algo que a gente aprende logo cedo. Toda escolha traz várias sensações: satisfação, dúvida, frustração. Isso acontece porque quando escolhemos uma coisa estamos abrindo mão de  outra. Às vezes é fácil, simplesmente se tem certeza de qual caminho seguir. Às vezes, no meu caso muitas vezes, é difícil por ter que abrir mão de coisas que eu também queria. 
Hoje foi um dia assim. Precisei escolher entre dois sonhos. Foi como escolher se eu queria cortar meu braço direito ou esquerdo. 
Desde criança eu tenho dois sonhos. Não objetivos como "vou fazer faculdade e ser bem sucedida", não desejos como "quero muito uma bicicleta". Sonhos, daqueles que a gente nem assume muito porque são tão grandes que farão o público dizer "ah tá, até parece que vai acontecer". Pense no seu maior sonho, o maior de todos, tão grande que parece que é maior do que você e por isso mesmo quase impossível. Então, é disso que estou falando, eu tenho desde criança dois sonhos: dançar e escrever.
Eu devia ter entre 8 e 9 anos quando isso ficou claro aqui dentro. Uma vizinha tinha uma academia de judô e dança. Como nossas famílias eram muito próximas, ganhei uma bolsa para fazer judô. Eu odiava o judô. Eu ia as aulas porque gostava do alongamento, dos exercícios e de aprender a contar em japonês. Mas odiava a luta. Achava lutar a coisa mais sem sentido do mundo. Confesso que hoje eu não penso assim e até faria alguma arte marcial. Mas criança eu ficava sonhando com o dia em que colocaria a sapatilha nos pés e iria pra aula de Ballet. 
Eu não ganhei uma bolsa de ballet e naquela época não existia programa social, ong e etc para me dar uma oportunidade. Sem grana, eu passei a pensar "um dia eu ainda vou dançar". 
Durante toda a infância e adolescência, uma amiga que fez ballet e se tornou bailarina do Municipal de São Paulo era a única que sabia do meu sonho. Durante todo este tempo, ela fazia os pais comprarem o meu ingresso para as suas apresentações. Eu lembro quantas vezes eu a vi dançando com os olhos cheios de lágrimas. Não era inveja, nunca foi. Eu tinha orgulho dela e me sentia acolhida em ao menos poder assistir algo com que eu tanto sonhava. 
Também nesta idade eu escrevi minhas primeiras poesias e meu primeiro livro. Nunca o terminei, é verdade. Depois de alguns capítulos eu achei a história ridícula e parei. Só fui voltar a escrever com uns 10 anos, quando a professora de português escolheu uma redação minha como a melhor da turma. Foi como se ela me dissesse "você sabe fazer isso". Por volta dos 15, 16 anos eu joguei tudo o que já tinha escrito fora. TUDO. Rasguei e joguei. Disse para mim mesma que aquilo era uma besteira mal feita e que eu não tinha talento nenhum pra coisa. 
Na faculdade voltei a escrever e aí a coisa foi mais normal. Recebi elogios e críticas. Comecei a acreditar que escrever era uma jornada e um dia eu conseguiria ser uma escritora. Acredito nisso até hoje, por isso mantenho este blog que quase ninguém lê. Eu amo cada linha escrita aqui e sei que um dia isso me levará mais longe. Não como blogueira, que aliás está parecendo o "is the new modelo e atriz" que já tinha virado "modelo e dj", mas sim como escritora. Estou falando de livros. No plural. 
Hoje, com 35 anos, eu faço aulas de jazz e escrevo em três blogs além do que ainda não está pronto pra ser publicado. Eu realizei um sonho de criança, não vou nunca mais parar de dançar. Eu caminho para realizar o segundo, sei que vou levar a vida toda nisso. 
Então vocês podem imaginar como foi ouvir o professor de jazz dizer que minha apresentação de fim de ano será no dia 27/11, mesmo dia em que a amiga Lara Fidelis lançará seu livro e me apresentará a uma pessoa a quem me indicou para um evento com mulheres e blogueiras... 
Sim, no mesmo dia acontecerão duas coisas de extrema importância para a realização dos meus sonhos e eu fui obrigada a escolher um dos dois. 
Escolher dançar significa deixar de prestigiar minha amiga e deixar de lado uma oportunidade de começar a profissionalizar meu trabalho como escritora. Escolher o evento significa abandonar minha primeira chance de pisar no palco como dançarina, depois de meses de ensaio e tendo até conquistado uma posição de destaque na coreografia.
Muito difícil. Escolhi dançar. Meu cálculo foi que é mais fácil ter outras oportunidades de me reunir com esta pessoa do que de subir ao palco pela primeira vez. Estou segura da minha escolha. E está doendo pra caralho. Vem a dúvida "e se for minha única oportunidade, aquela que dizem que não podemos desperdiçar porque não haverá outra?". Vem a tristeza "puxa, eu queria muito fazer os dois". Estou chorando desde que saí do jazz. Vou ficar bem, eu sempre fico. Só falta contar pra Lara...