Pesquisar este blog

14.6.13

Eu também quero falar


Estou numa cruzada por divulgar e defender as manifestações em São Paulo desde ontem. Vi e li tanta coisa que não aguento mais: eu também quero falar.
Começamos assistindo milhares de pessoas saírem de suas casas para protestarem contra algo muito específico: o aumento da passagem de ônibus. Isso representa o aumento do custo para se viver numa cidade como São Paulo, que tem um dos maiores custos de vida do Brasil. Representa a diminuição do poder de compra de todos aqueles que dependem de transporte coletivo. Representa que cortes na vida diária deverão ser feitos: talvez a cervejinha no fim de semana (mas também pra que beber?), ou a manicure (isso não é necessidade!), ou ainda a bolacha recheada que a criança pede no mercado (e desde quando criança precisa disso?). Representa que sua qualidade de vida vai diminuir, seus poucos prazeres talvez tenham que ser cortados, alterados ou diminuídos também, representa que você vai viver como se deve: trabalhando, pagando conta e sem reclamar.
Mas as pessoas estão cansadas de perder e decidiram reclamar. Há muito tempo estamos perdendo. Perdemos perspectivas, perdemos qualidade de vida, perdemos a esperança. Quando se perde tudo há duas coisas que acontecem: você resolve correr atrás do que perdeu ou desiste. Acredito até que desistimos por muito tempo. Eu desisti. Desde a adolescência envolvida em algum tipo de luta por uma sociedade mais justa, acabei me restringindo aos textos (até porque é o que faço de melhor mesmo). 
Então, no desenrolar dos acontecimentos, percebemos que simbolicamente este aumento representa também um cerceamento do nosso direito constitucional de ir e vir. Não é bem assim, pode ir e vir se puder pagar o preço disso. 
Então ontem aconteceu o pior. E o melhor. Ontem ficou claro para todos nós: perdemos o direito de nos manifestar contra. Não se pode mais ser contra nada e se for esteja preparado, você será agredido. Pela polícia, pelo governo, por quem não concorda com você, por quem desistiu, por quem tem dinheiro pra pagar o aumento, por quem vai ganhar dinheiro com o aumento, pelas mídias tradicionais, por quem acha que só por que tem carro não será beneficiado com a sua luta, por quem não tem a menor ideia do que as palavras direito, manifestação, justiça e igualdade, significam.
Perceber tudo isso reacendeu em mim a velha chama adolescente de "eu quero mudar o mundo" e, nossa, como é bom senti-la viva no peito. Quando li sobre as manifestações no Rio, em Porto Alegre e em Brasília só conseguia pensar em uma coisa: isso galera, em todos os lugares, vamos pra rua. Vamos nos manifestar pelo direito de nos manifestar. Vamos enfim dizer: não, aqui não malandro! Que não seja mais um #protestosp, mas um #protestobr.

Há dois pontos mais práticos que ainda quero falar. 

 - Acha o valor irrisório? Faça as contas: ida+volta= 6,40. Considerando uma pessoa que pega apenas um ônibus para trabalhar. Mensalmente isso dá R$ 192,00. Só para trabalhar. Nada de lazer, visitar a família, ir ao médico. O salário mínimo (e sim, tem muita gente que ganha só UM salário mínimo) é R$ 755,00. Isso significa que sobraram para esta pessoa R$ 563,00 para sobreviver. Significa que ela gastará cerca de 25% do seu salário com transporte SÓ para ir trabalhar.

- Li muitas postagens criticando as pessoas que estão divulgando na internet o que lêem, mais ainda àquelas que estão se manifestando a favor. Sou contra vocês. Porque pior do que quem é contra as manifestações por alguma questão política, é quem é contra quem está enfim tentando fazer parte desta história de algum jeito. "Ah era Renan, era Feliciano, tomate, agora é SP". Sim. E se surgir outro problema social que incite as pessoas, será esse. Porque quando o moleque que não entende nada, nem é politizado, lê a manifestação de quem entende e decide compartilhar, ele está escolhendo um lado. Aliás, uma escolha mais favorável a mudança do que a sua, que se acha O espertão por tentar ridicularizá-lo. Aliás isso faz parecer que o problema é justamente este: você que não está fazendo nada se considera melhor do que quem está compartilhando informação. Já está mais que provado que informação é o grande motor das mudanças no mundo, chegou a hora de você repensar. Não tem nada que contribua realmente para o debate? Então assista, fique quieto, se informe, leia e depois decida o que dizer.

"que eu me organizando posso desorganizar
que eu desorganizando posso me organizar"
(Chico Science)

2 comentários:

  1. Texto muito bom. Identifiquei-me com a parte de "lutar por um mundo melhor". É justamente o que vivencio hoje por dois motivos: universidade e movimentos sociais.
    E a palavra tem um poder inimaginável! Bjs...

    ResponderExcluir